Uma pandemia não estava no planejamento das empresas, mas clareza na gestão ajuda a enfrentar o problema e manter negócios em pé

Tudo parecia distante, até que o perigo eminente do Covid-19 carimbou seu passaporte na nossa fronteira e começou a aproveitar o finzinho do verão brasileiro para fazer o seu melhor: se espalhar rapidamente, colocando muitas pessoas em risco.

A alternativa de baixar as portas dos comércios, esvaziar ruas e cancelar eventos é, no momento, a única saída para conter o vírus e suas consequências. No entanto, na outra ponta dessa solução surge uma nova crise: empresas vendo a receita e os resultados despencarem. Como manter uma gestão equilibrada diante desse cenário? 

Assim como em períodos tranquilos, a máxima é a mesma: só é seguro tomar decisões tendo informações seguras. E isso se conquista com um bom controle interno de Receita, Despesas e Resultado, em que é possível fazer uma análise clara dos possíveis impactos de ações emergenciais, como o corte de custos. Essa medida premente, mas necessária, pede cautela, já que cortar nos lugares errados pode não representar tanta economia assim e trazer problemas críticos mais à frente. Vide quando é sobre a mão de obra.

Demissões

Como os salários representam uma alta despesa nos negócios, é natural que numa emergência os gestores busquem reduzi-la. No entanto, demissões também custam dinheiro e o resultado efetivo no caixa será apenas de médio prazo. Vamos ao exemplo.

Uma rescisão envolve pagamento de férias e 13° proporcionais, aviso prévio e multa sobre FGTS. Assim, a demissão de um funcionário que custe R$2.000,00 mensais pode ser equivalente à manutenção dele por meses na empresa. Se ele trabalha com você há cinco anos, o valor da rescisão sairia em torno de R$10.500,00, o que bancaria até cinco meses de salário. 

No caso de um parceiro antigo, com 15 anos de trabalho, o resultado da sua demissão só seria refletido no caixa após dez meses, já que o total da rescisão seria em torno de nove salários. E mesmo se reduzirmos o tempo de serviço desse funcionário para apenas um ano de casa, ainda assim a média do custo da demissão será equivalente a três meses de seu salário. Ou seja, tempo suficiente para pensarmos na retomada do mercado.

Retomada

Podemos classificar a crise atual como uma crise de demanda, em que as pessoas estão deixando de consumir diversos tipos de produtos e serviços. O que surge com isso em alguns setores (como no comércio de bens duráveis) é o fenômeno de demanda reprimida, em que tudo que ficou preso nesse período e deve retornar rapidamente com a volta da circulação. Se a volta acontece após um mês de estagnação da receita, por exemplo, as vendas devem ser maiores que o normal e, ao longo de três meses, já compensar a pausa anterior. 

Assim, quem demitiu pode ter dificuldade para atender o público que volta a consumir, enquanto quem optou por manter sua mão de obra poderá absorver o mercado. O empresário que não tem tempo para se recompor, se não atender essa demanda, poderá perder o cliente para a concorrência. Vale ressaltar, no entanto, que isso não funciona em todos os segmentos de negócio, infelizmente. 

Os restaurantes por exemplo, não se beneficiam da demanda reprimida, pois quem ficou 30 dias sem comer fora, não passará a comer três vezes por dia para compensar. O mesmo podemos dizer sobre o setor de serviços, como cabeleireiros, manicure, estética, etc. O comércio de bens de alto valor, como veículos e imóveis, também poderá ficar mais retraído por um tempo, diante da incerteza do mercado pós pandemia. 

Segurando as pontas

Capital de giro é, sem dúvida, fundamental para a empresa suportar um período de despesas sem receita, mantendo sua estrutura. Isso a permitirá atender, inclusive, a clientela de quem não teve a mesma organização e sofreu mais os impactos da crise. Mesmo que os custos variáveis caiam, já que estão ligados à venda (como comissões e matéria prima), os fixos (como aluguel e mão de obra) pesam no bolso. 

Quando o negócio depende da receita do mês para pagar as despesas geradas no mês anterior, nos deparamos com o pior dos casos para esse momento. A melhor saída, aí, é renegociar as contas direto com os fornecedores, demonstrando que a situação tende a ser passageira. No entanto, se a má fase se estender e o novo prazo combinado com o fornecedor ainda não for suficiente não é recomendável renegociar novamente. 

Não cumprir com uma previsão de pagamento gera desgaste na relação e fere o que melhor se pode praticar no mercado: a previsibilidade. Neste caso, o indicado é buscar um empréstimo e arcar com a despesa, evitando prejudicar o fornecedor e alimentando a confiança que ele tem em você.

O importante é que, se você acredita no seu negócio e sabe o potencial lucrativo dele, vale a pena usar as reservas ou mesmo buscar financiamentos. O Governo Federal já tem criado meios para subsidiar custos com folhas de pagamento, então fique de olho em todas as possibilidades. 

Clareza nas contas

Além de facilitar a leitura das possibilidades financeiras da empresa diante da crise, ter informações seguras sobre o negócio facilita a obtenção de empréstimos junto aos bancos. Ao demonstrar dados consistentes, os responsáveis pela liberação de crédito têm mais confiança no seu controle e visão sobre as finanças. E essa é a maior proposta da BMCE.

Mesmo que nesse momento, sua empresa não se encontre preparada para lidar com os desafios e precise tomar decisões mais instintivas, é certo que outras crises ainda virão. Não sabemos quando, mas cabe perguntar: vamos esperar o novo problema aparecer ou vamos nos preparar desde já?

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